sábado, 17 de janeiro de 2015

A Falta



O abraço que imagino não chega. 

Seria preciso absorver-te inteira para poder acalmar a inquietação da falta. A falta. O não existires ao pé de mim. O ar apenas. Tenho medo de esquecer a tua cara. De não me lembrar nunca mais do sabor da tua pele, do toque das tuas mãos honestas. Tenho medo de arrefecer o meu fogo.

A música do meu dia é a gravação do teu riso na minha cabeça. Os odores da cidade morrem debaixo desse teu cheiro que me estonteia. É cheiro de baunilha, de noite de Verão, de saudade. O teu fio de cabelo, mais quente e alegre que o Sol. Apenas tenho a moldura. Falta o essencial, a obra-de-arte.

Falta-me o ar. Os braços, as pernas, o teu andar.

És-me. Com toda a força do teu tecido e do teu tronco. És-me e sou teu. Tu foste a tinta, o decalque. Eu a parede. Caiam primeiro os tijolos, que a tinta ficará.

Para mim, o átomo e a partícula moram em ti. Isso que chamam de Universo és tu.
Faltas-me. Falta-me tudo…